A Lei 10.639/03 determina que todas as escolas incluam o ensino da cultura afro-brasileira. Em 2008, essa obrigatoriedade foi ampliada pela Lei 11.645, que acrescentou também a história e a cultura dos povos indígenas aos currículos.
Na Educação Física, as possibilidades de explorar as culturas indígenas são enormes: danças, lutas, jogos, brincadeiras e costumes de diferentes povos originários. Trata-se de um universo rico de práticas corporais que podem ser trabalhadas de forma respeitosa e significativa nas aulas.
Pensando nisso, a professora Carmeleide dos Santos, de Serra Talhada (PE), escolheu a luta huka-huka para apresentar a cultura indígena aos alunos do 5º ano. “É muito importante que eles conheçam uma luta que valoriza a cultura indígena brasileira. Abordar esses temas é preservar e reconhecer esse patrimônio imaterial”, destacou.
Carmeleide também explicou que essa prática corporal vai muito além da competição. Por trás dela, existem rituais de passagem, celebrações e toda a história de um povo. Por isso, ela aposta em colocar os alunos em contato com essas experiências, promovendo não só o desenvolvimento físico, mas também social, contribuindo para uma Educação Física que fortalece as relações étnico-raciais.
Durante o projeto, Carmeleide contou com o apoio de estudantes de licenciatura em Educação Física do PIBID, que acompanham suas aulas há um ano. Segundo ela, é gratificante orientar jovens do 2º e 4º período e compartilhar experiências com futuros professores.
A huka-huka é uma luta tradicional dos povos do Alto Xingu, no Mato Grosso. Ela acontece principalmente em rituais como o Kuarup e envolve força, estratégia e muito respeito. Os lutadores começam agachados, seguram-se pelos braços e tentam derrubar o adversário, sempre seguindo regras que valorizam coragem, equilíbrio e controle corporal. Ao final, eles se cumprimentam, reforçando os laços de amizade. Mais do que uma disputa, a huka-huka simboliza celebração, passagem e conexão com a ancestralidade. O nome vem do som emitido pelos lutadores no início da luta, lembrando o rosnado de uma onça.
Para introduzir o tema, a professora Carmeleide iniciou com uma roda de conversa para entender o que os alunos sabiam sobre os povos indígenas. Foi nesse momento que percebeu uma visão distorcida: muitos achavam que indígenas viviam apenas em locais distantes ou até que não existiam mais.
A partir disso, ela exibiu vídeos e apresentações mostrando a diversidade das culturas indígenas e suas práticas corporais, como lutas, jogos e brincadeiras que preservam tradições importantes desses povos. Essa contextualização ajudou a turma a compreender o valor histórico dessas práticas e como são transmitidas entre gerações. Foi assim que a professora apresentou a história e os fundamentos da huka-huka, até então desconhecida pelos estudantes. O interesse surgiu na hora. “Eles ficaram curiosos para saber como os indígenas vivem hoje e se as tradições permanecem nas aldeias. Passaram a enxergar os povos indígenas como produtores de cultura”, contou.
Com o contexto estabelecido, a aula seguiu para a quadra. Carmeleide propôs uma vivência lúdica da huka-huka, adaptando as regras e destacando equilíbrio, respeito e segurança para garantir a participação de todos, independentemente do porte físico. A luta tradicional é realizada na areia, mas a professora optou por usar tatames para evitar que os alunos se machucassem. Em duplas, eles se cumprimentavam, ajoelhavam-se, seguravam os ombros do colega e tentavam desequilibrá-lo. A empolgação foi tanta que, ao final da aula, pediram para repetir.
Além da luta, a professora também trabalhou brincadeiras da cultura indígena a partir da construção de brinquedos com materiais recicláveis. Os alunos levaram garrafas PET, papelão, canetas coloridas e tesouras sem ponta para montar:
Peteca, feita de TNT e folhas de papel.
Bilboquê, produzido com garrafas PET e decorado com fitas coloridas e EVA.
Maracas, usando garrafas PET e enfeites em fita e EVA.
Kabuletê, construído com papelão, barbante e tampas de garrafa.
Depois da confecção, Carmeleide explicou as regras e a turma partiu para as brincadeiras. Também exploraram jogos tradicionais de diferentes povos indígenas, como cabo de guerra, jogo de bila (bolinhas de gude), peteca, pião e “A onça e a galinha”. Nessa última, a criança que representa a onça fica no centro de um campo dividido ao meio. As demais, representando as galinhas, precisam atravessar o espaço correndo sem serem capturadas. A proposta é estimular agilidade, estratégia e, claro, muita diversão.
No encerramento, a professora conversou com os alunos sobre o que aprenderam. Além de se divertirem, eles demonstraram interesse em repetir a atividade e destacaram valores como respeito, empatia e coragem.
Para Carmeleide, trazer essas temáticas para a Educação Física é fundamental. A aula abre espaço para práticas não hegemônicas, promove equidade, valoriza a diversidade e fortalece uma educação antirracista dentro e fora da quadra.
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