Você já parou para observar quem realmente ocupa o pátio ou a quadra durante o recreio? O estudo Girls Just Wanna Have Fun (Perkins&Will Research, 2024), realizado em escolas da Catalunha, utilizou mapas ilustrativos para registrar a movimentação dos alunos. Em azul estavam os percursos dos meninos; em vermelho, os das meninas. O resultado é claro: enquanto eles ocupam o centro e a maior parte do espaço com jogos coletivos, elas acabam restritas às bordas, escadas e cantos.
A pesquisa revelou que meninos chegam a ocupar 10 vezes mais espaço do que meninas nas áreas centrais das quadras. Esse afastamento não está relacionado à falta de interesse das alunas, mas sim a barreiras estruturais e sociais: competitividade excessiva, risco de assédio, falta de segurança e ausência de espaços pensados para diferentes formas de interação. Com a chegada da adolescência, o ato de “brincar” dá lugar ao “socializar”, mas os ambientes escolares raramente acompanham essa transição.
No Brasil, surge ainda outro elemento no debate sobre o recreio. Com a recente lei que restringe o uso de celulares nas escolas, o intervalo voltou a ser mais barulhento e ativo. Mesmo assim, a lógica de movimento ainda se concentra muito mais entre os meninos do que entre as meninas.
As consequências vão muito além do lazer. Estar na quadra é uma oportunidade de desenvolver habilidades físicas, sociais e emocionais. Quando as meninas não participam, perdem experiências importantes para o fortalecimento da motricidade, da autoestima, da confiança e da socialização.
Diante desse cenário, os(as) professores(as) de Educação Física têm um papel estratégico. Ao repensar dinâmicas, diversificar os jogos e reorganizar o uso do espaço, podem abrir caminhos para que as meninas participem mais ativamente e se sintam seguras e acolhidas no ambiente escolar.
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